Entrevista realizada pelas Eco-Jornalistas da Oficina de Educomunicação, no dia 27 de junho de 2009, com Mayla Willik Valenti, 25 anos, Bióloga e mestranda em Ecologia e Recursos Naturais pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCar, desenvolve atividades no Programa Trilha da Natureza da UFSCar e participa da Rede de Educação Ambiental – REA e do Coletivo Educador de São Carlos, Araraquara, Jaboticabal e Região – CESCAR.
Eco-Jornalista Larissa Zapparoli: Estamos aqui na sala do Colégio CAASO com a nossa entrevistada Mayla!
Mayla o que é CescarMotivo (Cecília Meireles)?
Mayla: Cescar é Coletivo Educador de São Carlos, Araraquara, Jaboticabal e região. É um nome meio grande mais a idéia é reunir instituições que trabalham com educação ambiental, porque, normalmente as pessoas que trabalham com isso e outros assuntos relacionados ao meio ambiente ficam cada um no seu cantinho, na sua ONG, na sua empresa. Então a idéia é fazer uma espécie de pacto, pra todo mundo trabalhar junto e realizar trabalhos melhores. O principal objetivo é formar pessoas, educadores, para trabalhar com educação ambiental.
Eco-Jornalista Larissa Zapparoli: Você disse pra gente que vai trabalhar no EA. Qual é a importância do EA pra você?
Mayla: Eu acho que o EA é importante pra divulgar as ações de educação ambiental que estão acontecendo por aí. É também um espaço pra divulgar experiências, pra pessoas se conhecerem, ter contatos umas com as outras. Eu posso estar fazendo um trabalho muito parecido com o de outra pessoa, e no EA nós podemos nos comunicar e trabalhar juntos, inclusive.
Eco-Jornalista Marianna Nascimento: Você disse que fez biologia e está fazendo mestrado em ecologia. Porque dessa escolha?
Mayla: Eu queria melhorar minha formação como pesquisadora. Agora eu sou pesquisadora em educação ambiental. Sou pesquisadora em ecologia. Mas a linha é a educação ambiental. Minha formação como bióloga não me deu muito subsídio para trabalhar com educação, por isso pensei que precisava de uma área mais aprofundada. E também para saber se eu gosto mesmo de trabalhar com pesquisa, que eu não sei se é a minha praia, mas eu tô gostando!
Eco-Jornalista Raissa Godoy: Como você disse, cada ano o EA aborda um tema central. Como o tema é escolhido?
Mayla: Esse tema é escolhido na Rede de Educação Ambiental, a principal organizadora do EA. A gente escolhe de acordo com as coisas que estão acontecendo no momento. Em 2006, por exemplo, estava se formando o EA, então o tema foi sobre ele. Agora está em discussão o Plano de Saneamento Ambiental do município, então achamos importante abordar isso e a educação ambiental, que tem a ver com isso. É uma decisão coletiva. Uma pessoa dá a proposta e decidimos juntos.
Eco-Jornalista Marianna Nascimento: Qual a sua opinião sobre o tema?
Mayla: Eu acho que é um tema importante, pois estamos discutindo isso na cidade agora. Eu acho inclusive, que esse tema já deveria existir antes, pois é um tema básico para a cidade. Também acho que discutir educação ambiental a partir desse tem é muito bacana. São temas recorrentes na educação ambiental. Eu acho bacana ver o que as pessoas têm feito sobre isso.
Eco-Jornalista Marianna Nascimento: Esse tema foi escolhido para alcançar todos os públicos?
Mayla: Então, o tema foi escolhido, pois estamos discutindo isso na cidade. Mas a programação do EA foi feita pensando em atingir vários públicos. Nós vamos ter algumas oficinas, gincanas, que vão atingir mais as crianças (agente acha) e tem rodas de conversa, uma mesa redonda de abertura que vai ser mais para as pessoas que estão mais envolvidas com o trabalho de educação ambiental.... esse é o principal público. Daí, no sábado, vai ter uma atividade na Praça do Bicão, voltada para todos os públicos possíveis. Vai ter diversas atividades para toda a população interessada no assunto.
Eco-Jornalista Raissa Godoy: Você acha que o EA vai ajudar a resolver os problemas e conscientizará as pessoas que vão no evento?
Mayla: Eu acho que em parte sim! Acho que o EA vai ajudar a dar base para as pessoas que trabalham com educação ambiental, para aquelas pessoas que participarem das oficinas pensarem um pouco melhor sobre esse tema. A gente espera que as pessoas pensem mais criticamente sobre o tema. Mas acho que a educação ambiental não resolve tudo. É só uma parte da solução. A questão ambiental é muito complexa. Tem um monte de coisa envolvida... Contexto político, econômico, social... a educação é uma parte.
Educomunicador Iúri Gebara: Conta pra gente, já que você está circulando pelos caminhos da educação ambiental desde 2006... o que mudou desde que você entrou nessa história toda?
Mayla: Eu mudei mais que tudo!!!! Eu acho que o Cescar, modéstia a parte, fez bastante diferença na educação ambiental da região que nos propomos a trabalhar. Eu sou bastante crítica em relação aos nossos projetos. Tem mil defeitos, mil críticas, nunca acontece do jeito que a gente queria que fosse lá no mundo das idéias.... Mas depois de um tempo, nós fizemos um curso em que cada grupo desenvolveu um projeto para formar educadores ambientais populares... Mesmo que nem todos os projetos tenham ido pra frente eles fizeram e fazem diferença pra educação ambiental dessa região. Tem muito mais gente pensando nisso e trabalhando com isso... Pensando de forma menos ingênua na forma de atuar.
Eco-Jornalista Larissa Zapparoli: Você disse que mudou desde que se envolveu com a educação ambiental. Em que aspectos você mudou? Das suas atitudes?
Mayla: Desde criança sou chamada de eco-chata! Eu sou daquelas que brigavam com as crianças no recreio por causa dos papéizinhos no chão! Bem chata mesmo! Então eu já tinha uma veia ambientalista correndo dentro de mim desde criança. Mas o que mais eu mudei em relação as minhas atitudes... e muitas pessoas não pensam nisso, é que comecei a pensar na minha participação política. Porque eu não entendia muito bem isso, essa importância de participar politicamente das coisas. Eu achava que isso não resolvia.... que não ia pra frente. Aí eu comecei a trabalhar com educação ambiental e ouvir as pessoas falando “olha, educação ambiental não é só isso... natureza, trilha, água, é também participação política, engajamento...” e eu fiquei pensando que raio é a tal da participação política! E hoje eu acho que tenho essa atuação muito mais ativa. Uma veia meio revoltada dentro de mim que me faz muuuuuito querer isso! Eu entrei para uma entidade de pós-graduandos dentro da Universidade e tenho claro que isso foi por causa da minha relação com a educação ambiental.
Eco-Jornalista Larissa Zapparoli: Você disse que tinha isso dentro de você desde quando era criança... só que muitas pessoas não tem isso correndo dentro! Você acha que isso pode mudar nas pessoas?
Mayla: Mudar nunca é fácil! Eu acho que, principalmente hábitos que já estamos acostumados, e com toda a sociedade, o meio que a gente vive empurrando a gente pra fazer coisas diferentes daquilo que é ambientalmente mais saudável, é muito difícil mudar. Mas eu só trabalho com educação ambiental porque eu acredito na mudança! E eu acho que nós, seres humanos, pensantes, a gente não é só um pote vazio que as pessoas colocam coisas dentro! A gente mexe nisso tudo, transforma... eu acho que é possível mudar... mas não é fácil!
Eco-Jornalista Marianna Nascimento: Você diz que acredita na mudança... se você acredita, como você começaria. De qual grupo, qual seu alvo?
Mayla: Assim, pensando na minha atuação enquanto educadora ambiental, eu consigo pensar no meu meio mais próximo, que está em volta de mim. No meu caso é o contexto universitário, esse público que eu trabalho.... De forma mais ativa. Eu trabalho num projeto de educação ambiental numa trilha na federal desde 2002, antes de entrar no mundo teórico da educação ambiental. Para esse campo em geral, eu acho que não tem público principal. Muita gente fala em trabalhar com crianças, pois elas não estão bem formadas e tal... eu acho que de fato é muito gostoso, elas são interessadas. Mas por outro lado elas recebem muitas coisas dos pais, em casa, que muitas vezes interfere muito mais do que o que alguém está falando na escola, numa trilha. Tem que trabalhar com crianças, mas também com adultos, inclusive com os formadores de opinião, tomadores de decisão (políticos), empresários, que são os maiores poluidores e impactantes... então, eu acho que é mais fácil para cada pessoa começar pelo mundo que ela conhece.
Educomunicadora Giovana Camargo: É uma dúvida que surgiu antes da gente te receber. O mestrado que você está fazendo é em educação ambiental. Conta um pouquinho.
Mayla: Meu mestrado é em educação ambiental e unidade de conservação. Isso veio desse trabalho que eu falei com a trilha. Um trabalho que faz visitas monitoradas na trilha de natureza, que é um trabalho no cerrado dentro da Universidade. Fizemos o trabalho de forma intuitiva, depois que entrei no universo da educação ambiental comecei a estudar... tem muita gente que fala que não é só natureza, mas participação política, valores éticos que precisam ser trabalhados. Daí eu fiquei incucada pensando... como é que eu vou trabalhar com política, democracia, crítica ao capitalismo numa trilha, no cerrado? E isso me instigou a fazer a pesquisa. Eu estou mapeando como é que são os trabalhos de educação ambiental em unidades de conservação... áreas naturais. Tudo puxa pra você falar: olha que árvores bonitinhas, que bichinhos passam por aqui... geralmente é assim mesmo... mas tem um potencial grande para trabalhar com conhecimentos tradicionais, populações que vivem lá, como se organizam, os conflitos que acontecem por lá e poderiam ser base para trabalhar com política, participação... e aí, eu espero, com meu trabalho,contribuir com a educação ambiental que é feita nesses espaços.
Educomunicadora Giovana Camargo: Qual o foi o projeto nesse tempo de educação ambiental, aquele que tenha te dado maior vontade de continuar.
Mayla: Acho que a trilha... é meu xodozinho! Ela me fez primeiro eu me apaixonar pelo cerrado... fui primeiro trabalhar lá, não enquanto educadora, mas como bióloga. Eu luto pelo cerrado da federal até hoje, com unhas e dentes! Eu acho que te um potencial muito grande pra se desenvolver nesse projeto e eu tenho muita vontade de deixar ele grande, de fazer ele ir pra frente... como eu tô desde que entrei na faculdade, tudo o que eu mudei na graduação e no mestrado, eu coloquei lá na trilha. Não consigo deixar a trilha!
O projeto tem várias vertentes. A principal são visitas monitoradas. Os monitores acompanham estudantes de escolas que agendam as visitas para conhecer o cerrado. Fora isso a gente trabalha com formação de monitores, com cursos anuais, atividades de pesquisa em que avaliamos o projeto e levamos para congressos (inclusive vai ter no EA)... porque, geralmente, as pessoas não gostam muito do cerrado. Acham que é um monte de árvore torta... então, a gente tenta mostrar para as pessoas que tem muita coisa bonita no cerrado... e é isso!